Adustina-Ba:Dengue: prevenção deve priorizar a eliminação de focos do Aedes aegypti

 Persistência e eficácia do regulador de crescimento pyriproxyfen em condições de laboratório para Aedes aegypti.

 

RESUMO
A persistência e a eficácia do regulador de crescimento pyriproxyfen foram testadas em concentrações de 0,01 e 0,05ppm, contra larvas de Aedes aegypti, utilizando os recipientes caixas d'água (45 litros), frascos de vidro (5 litros) e baldes de plástico (20 litros). As avaliações foram nos dias 1, 7, 15, 30, 45, 60, 90 e 120 após o tratamento usando larvas de 3º e 4º estádio de Aedes aegypti. Foi calculado o percentual de mortalidade de larvas, pupas e adultos, percentual de inibição de emergência de adulto e duração dos bioensaios. Observou-se que a persistência foi de 45 dias e 90 dias para concentração final de 0,01 e 0,05ppm de pyriproxyfen, respectivamente. Observamos que a mortalidade de pupas foi significativamente maior que a de larvas e de adultos para todos os recipientes e concentrações.
Palavras-chaves: Aedes aegypti. Regulador de crescimento. Pyriproxyfen. 

O potencial para o desenvolvimento da resistência surge como um questionamento inevitável na maioria das discussões práticas sobre a utilidade dos inseticidas nos programas de controle de vetores no Brasil. Atualmente, os inseticidas pertencentes ao grupo dos organofosforados, têm sido amplamente usados no Programa de Controle de Dengue. Como conseqüência, as populações de Aedes aegypti estão sob intensa pressão de seleção de indivíduos resistentes. Devido ao aumento da resistência aos inseticidas, o uso dos mesmos deve ser meticulosamente considerado. Assim, o conhecimento e a manipulação dos fatores que podem retardar a evolução da resistência devem ser devidamente considerados nos programas de controle de vetores. Os reguladores de crescimento estão sendo testados como medidas alternativas no controle de vetores e esses reguladores atuam interferindo na pupação, desenvolvimento dos insetos, alterações na morfogênese, desenvolvimento embriológico, reprodução, diapausa, polimorfismo e comportamento4 5 8. Os reguladores de crescimento conhecidos como terceira geração de inseticidas2, são moléculas sintéticas, análogas aos hormônios naturais dos insetos são mais seguros para a manipulação e possuem lenta evolução de resistência aos inseticidas convencionais1.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a persistência e eficácia, em condições de laboratório, do regulador de crescimento pyriproxyfen, em recipientes de plástico, de vidro e de cimento.

MATERIAL E MÉTODOS
As larvas de Aedes aegypti de 3º e 4º estádio foram obtidas de colônia de laboratório, de cepa suscetível, originada do laboratório da USDA de Gainesville, Flórida. Os mosquitos foram criados em condições de insetário sob controle de temperatura (25º ± 2ºC), umidade (70-80%) e fotoperíodo (12E: 12L).
A persistência e eficácia do regulador de crescimento (IGR), pyriproxyfen (Sumilarv 0,5% G) foi avaliada em três tipos de recipientes: balde de plástico (20 litros), frascos de vidro (5 litros) e caixa de cimento (45 litros), prevalentes para a criação do A. aegypti em várias regiões do Brasil.
Duas concentrações finais de 0,01 e 0,05ppm de pyriproxyfen na formulação granulada foram ensaiadas. A pesagem e adição do pyriproxyfen nos três tipos de recipientes ocorreram no dia zero (0), onde um balde de plástico (20l), uma caixa de cimento (45l) e dois frascos de vidro (5l) representavam um tratamento para cada dosagem e tempo de avaliação da persistência e eficácia do regulador de crescimento. Adicionalmente, para cada dosagem, tempo de avaliação e tipo de depósito, um recipiente recebeu somente água, nos quais foram tomadas amostras como controle.
Os recipientes tratados e controle ficaram expostos na parte externa do laboratório e durante o período de avaliação não houve renovação e acréscimo de água perdida por evaporação. Nos dias 1, 7, 15, 30, 45, 60, 90 e 120 dias após o tratamento, a água dos recipientes era agitada com auxilio de um bastão e retiradas amostras com um Becker. Com o auxílio de uma proveta, foram medidos 250ml da diluição homogeneizada do produto, dos diferentes recipientes e colocados em copos de plástico de 500ml para realização dos bioensaios.
A metodologia de bioensaios para larvas, padronizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi utilizada para realização das avaliações, sendo realizados bioensaios para cada recipiente, concentração e tempo pós-tratamento. Nos bioensaios foram utilizadas oito réplicas com 25 larvas/réplica, totalizando 200 larvas de A. aegypti, expostas ao regulador de crescimento e quatro réplicas com 25 larvas/réplica, totalizando 100 larvas de A.aegypti como controle.
Durante os bioensaios as larvas foram alimentadas com ração para peixes goldfish e permaneceram em condições de laboratório sendo, diariamente, registrado o número de larvas vivas e mortas. As pupas foram transferidas com auxilio de uma pipeta de Pasteur de plástico para frascos transparentes de polipropileno com capacidade para 25ml. As pupas vivas e mortas bem como a emergência de adultos, nos tratamentos e controle, foram registradas diariamente. As leituras finalizaram no momento em que o último exemplar morreu ou sobreviveu. Com estes dados, com o objetivo de medir a eficácia e persistência de cada concentração do pyriproxyfen, os seguintes parâmetros foram determinados: a) percentual de mortalidade das larvas (mortas/expostas); b) percentual de mortalidade de pupas (mortas/total); c) percentual de mortalidade de adultos (mortos/total); d) percentual de inibição de emergência = [100 – (100 - E/C)]. Onde: E = % emergência nos expostos; C= % emergência no controle.

RESULTADOS
Inibição de emergência de adultos. Os resultados referentes à porcentagem de inibição de emergência (%IE) para Aedes aegypti são apresentados na Tabela 1. A inibição de emergência relaciona os adultos emergidos nos tratamentos e no controle. Para a dosagem de 0,01ppm de ingrediente ativo de pyriproxyfen, o %IE para os três tipos de recipientes avaliados variou entre 25% e 100% durante todo o período de experimentação e que houve uma redução acentuada no %IE para o recipiente balde de plástico (25%) após 60 dias de tratamento e para o recipiente caixa d'água (68%) e vidro (80%) após 120 dias de tratamento.



Na dosagem de 0,01ppm de pyriproxyfen verificamos diferença significativa entre os recipientes de vidro e caixas d'água versus balde de plástico (p<0,05) quando analisamos o percentual de inibição de emergência de todos os tempos de pós-tratamento.
Para Aedes aegypti, na dosagem de 0,05ppm de pyriproxyfen, observa-se que a persistência foi significativamente diferente quando comparamos os dias pós-tratamento 1, 7, 15, 30, 45, 60, 90 versus 120 dias (p<0,05). Na dosagem de 0,01ppm de pyriproxyfen, observa-se que a persistência foi significativamente diferente para os dias pós-tratamento 1,7,15,30,45 versus 120 dias (p<0,05) e os dias pós-tratamento 60,90 apresentaram uma tendência de diferenciar de 120 dias.
Mortalidade de larvas, pupas e adultos. A porcentagem de mortalidade de larvas, pupas e adultos de Aedes aegypti em recipientes de plástico, vidro e cimento mantido em condições simuladas de campo e tratados com pyriproxyfen encontra-se na Tabela 2. Verifica-se para a concentração final de 0,01ppm de pyriproxyfen a mortalidade variou entre 0% e 85% para larva, 12,5% e 97% para pupa e 0% e 50,5% para eclosão de adultos. Para a concentração final de 0,05ppm de pyriproxyfen, a mortalidade variou entre 0,5% e 86%, 14% e 97,5%, 0% e 36,5% para larvas, pupas e adultos, respectivamente. Verificamos que no estágio de pupa a mortalidade foi significativamente superior à encontrada nos estágios de larva e adulto (p<0,001). Analisando a mortalidade média nos estágios de Aedes aegypti e as dosagens testadas, verificamos que não houve diferença significativa na fase de larva (F=0,06, p<0,05). Na eclosão dos adultos (dados transformados (Log (Y + 1)) a mortalidade na dosagem de 0,01ppm foi significativamente superior a dosagem de 0,05ppm de pyriproxyfen (F=2,57, p<0,05). A mortalidade média de pupa foi significativamente diferente entre as dosagens testadas, onde observamos maior mortalidade média de pupas na concentração final de 0,05ppm de pyriproxyfen (F=2,05, p<0,05).



Duração dos bioensaios. O tempo de duração dos bioensaios, considerado a partir do primeiro dia de leitura até que o último indivíduo morreu ou emergiu, está representado na Tabela 3. Observa-se que de acordo com o tipo e tempo de exposição dos recipientes, a duração média de cada bioensaio variou de no mínimo 6 e no máximo 15 dias. Não encontramos diferença significativa entre tipos de recipientes (F=2,52, p>0,05) e tempo de exposição (F=1,82, p>0,05) para A. aegypti na dosagem de 0,01ppm e 0,05ppm de pyriproxyfen.



DISCUSSÃO
Atualmente, o uso de produtos com baixa toxicidade, alto efeito residual e elevada eficiência, vem sendo priorizados em estudos de controle de formas imaturas de culicídeos. Os reguladores de crescimento são um desses produtos que estão sendo avaliados e utilizados em algumas regiões do Brasil e em outros países.
Nayar e cols7, ao comparar regulador de crescimento pyriproxyfen com methoprene (1,5%) em condições de laboratório e, parcialmente, de campo nas concentrações de 0,02 e 0,05ppm contra larvas de 3º e 4º estádio de A. aegypti, A. albopictus, Culex nigripalpus e Aedes taeniorhynchus, observaram que em ambas concentrações, condições de experimentação e em todas as espécies, a inibição de emergência ocasionada pelo pyriproxyfen foi maior do que a do methoprene. Na concentração de 0,05ppm a inibição de emergência de A. aegypti foi maior do que a outra concentração. Esse resultado corrobora com o presente trabalho, no qual houve inibição de emergência maior para Aedes aegypti na concentração de 0,05ppm do que de 0,01ppm em todos os recipientes e em todos os tempos de envelhecimento.
Mulligan e Schaefer6 utilizaram o pyriproxyfen na concentração de 0,1kg/ha em duas lagoas poluídas, para o controle de larvas de Culex sp. Eles observaram o controle da população do inseto por períodos de 7 a 68 dias, sendo o grau de poluição da mesma um fator que interferiu na redução do efeito residual do produto. Sugeriram a utilização de outros métodos de controle vetorial alternados ao uso do regulador para prevenir ou diminuir o efeito da resistência desses insetos e para eliminar a população de larvas quando o pyriproxyfen ainda não está presente em uma concentração suficiente para produzir completa mortalidade dos indivíduos.
Okazawa e cols8, com a aplicação de pyriproxyfen em criadouros temporários para Anopheles punctulatus, nas concentrações de 0,1; 0,01; 0,02 e 0,05ppm, observaram completa inibição de emergência, por dois meses, na concentração de 0,1ppm, mesmo tendo ocorrido várias inundações na área. Nessa mesma concentração, durante o período seco, foi observada inibição de até 50 dias. Foi verificada, ainda, maior mortalidade no estágio de pupa quando utilizadas altas dosagens e quando a aplicação do produto era recente; ao contrário, com o decorrer do tempo de ensaio a mortalidade de adultos se tornava maior. O mesmo resultado foi observado no presente trabalho (Tabela 2), e também por Estrada e Mulla3, que utilizaram pyriproxyfen nas concentrações de 0,0005; 0,001; 0,0025 e 0,005mg/litro contra larvas de Anopheles quadrimaculatus, A. aegypti e Culex tarsalis. Para larvas de 4º estágio de A. aegypti, a inibição de emergência variou de 57% (com 0,0005mg/l) a 100% (com 0,005mg/l) e foi observada maior mortalidade acumulada no estágio de pupa que variou de 53% (com 0,0005mg/l) a 100% (com 0,005mg/l).
Neste trabalho, observou-se que a duração dos bioensaios não apresentou diferença significativa entre as concentrações e tempo de envelhecimento. (MLQ Pinzón, MEC Sales, EJP Perez, GLR Uribe, IDV Bernal: dados não publicados), em 2003, em Medellín, obtiveram resultados semelhantes, testando duas concentrações de pyriproxyfen, 0,01 e 0,05ppm, contra larvas de A. aegypti, C. quinquefasciatus e A. albimanus, sob condições de laboratório. A duração dos bioensaios variou de 6 a 38 dias, sendo as maiores durações na concentração de 0,01ppm. A espécie A. aegypti foi a que demorou mais dias para morrer. Também, foi observada maior mortalidade no estágio de pupa com diferença significativa entre as concentrações de 0,01 e 0,05ppm para Aedes e Culex. Nesse mesmo trabalho, não foi observada diferença significativa entre as doses e a inibição de emergência de adultos para A. albimanus e C. quinquefasciatus, mas sim para A. aegypti, na qual a dose de 0,05ppm foi mais efetiva.
O regulador de crescimento pyriproxyfen mostrou-se eficiente na inibição da emergência de adultos de A. aegypti nas duas doses testadas, com menor efeito residual na dosagem de 0,01ppm, em 45 dias, quando comparada à dosagem de 0,05ppm que, por 90 dias, persistiu adequada. Assim, os autores recomendam a dosagem de aplicação na concentração final de 0,05ppm, por um período de 90 dias.

AGRADECIMENTOS
A Sumitomo Chemical Company pelo fornecimento do produto testado, Suzana Maria Barros Rebouças e Giovani Pontel Gonçalves funcionários do Núcleo de Entomologia de Minas Gerais.


Endereço para correspondência:
Prof. Marcelo Carvalho de Resende
Núcleo de Entomologia de Minas Gerais
R. Rio de Janeiro 1200
Centro, 30160-041 Belo Horizonte, MG
E-mail: resendemarcelo@ig.com.br

Recebido para publicação em 14/12/2004
Aceito em 24/11/2005

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Dengue: prevenção deve priorizar a eliminação de focos do Aedes aegypti

Com o objetivo de esclarecer a população sobre o Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) disponibiliza as respostas de seus pesquisadores às perguntas mais freqüentes sobre o inseto transmissor. As questões abordam temas como a origem do mosquito, seus hábitos e seu ciclo de vida, esclarecendo dúvidas relativas a possíveis criadouros, supostas mudanças de hábitos, e sua recente multiplicação na cidade do Rio de Janeiro.
Por que o nome Aedes aegypti?
O mosquito Aedes aegypti é originário do Egito, mas se espalhou pelo mundo através da África: primeiro da costa leste do continente para as Américas, depois da costa oeste para a Ásia. O vetor foi descrito cientificamente pela primeira vez em 1762, quando foi denominado Culex aegypti.


 Genilton Vieira/IOC
 
 O mosquito A. aegypti se espalhou pelo mundo a partir da África, chegou a ser erradicado no Brasil, mas foi reintroduzido na década de 1960
É verdade que o mosquito Aedes aegypti já foi erradicado e depois reintroduzido no Brasil?
No início do século 20, o Aedes aegypti foi responsável pela transmissão da febre amarela urbana, o que impulsionou a criação de medidas para sua erradicação, que resultaram na eliminação do mosquito em 1955. No entanto, a erradicação não recobriu a totalidade do continente americano e o vetor permaneceu em áreas como Venezuela, sul dos Estados Unidos, Guianas e Suriname, além de toda a extensão insular que engloba Caribe e Cuba. A hipótese mais provável é de que tenha acontecido a chamada dispersão passiva dos vetores, através de deslocamentos humanos marítimos ou terrestres. No Brasil, o relaxamento das medidas de controle após a erradicação do vetor permitiu sua reintrodução no país no final da década de 1960. Hoje o mosquito é encontrado em todos os Estados brasileiros.
Como o Aedes aegypti chegou ao Brasil? Há registro histórico de dengue no passado?
As teorias mais aceitas indicam que o Aedes aegypti tenha se disseminado da África para o continente americano por embarcações que aportaram no Brasil para o tráfico de escravos. Há registro da ocorrência da doença em Curitiba (PR) no final do século 19 e em Niterói (RJ) no início do século 20.


 Genilton Vieira/IOC
 
 Mais comum em áreas urbanas, o mosquito transmissor da dengue vive perto do homem e pica sobretudo ao amanhecer e ao entardecer
A dengue ocorre só no Brasil?
Não. Há registro da doença em diversos países das Américas, bem como na África, na Ásia e na Polinésia Pacífica.
Que fatores influenciam a infestação pelo Aedes aegypti?
O Aedes aegypti é um mosquito antropofílico, isto é, ele vive perto do homem. Por isso, sua presença é mais comum em áreas urbanas e a infestação é mais intensa em regiões com alta densidade populacional e, principalmente, de desocupação desordenada, onde as fêmeas têm mais oportunidades para alimentação e dispõem de mais locais para desovar. A infestação por Aedes aegypti é sempre mais intensa no verão, em função da elevação da temperatura e da intensificação de chuvas – fatores que propiciam a reprodução do mosquito. Para evitar esta situação, é preciso desenvolver medidas permanentes para o controle do mosquito, durante todo o ano, a partir de ações preventivas que objetivem a eliminação de focos do vetor. Essa ação depende sobretudo do empenho da população.
Há  relação entre infestação de dengue e áreas desmatadas?
Os maiores índices de infestação são registrados em bairros com alta densidade populacional e baixa cobertura vegetal, onde o mosquito encontra alvos para alimentação mais facilmente. Outro fator importante é a falta de infra-estrutura de algumas localidades. Sem fornecimento regular de água, os moradores precisam armazenar o suprimento em grandes recipientes que na maioria das vezes não recebem os cuidados necessários e acabam tornando-se focos do mosquito porque não são vedados completamente. Portanto, os esforços para o controle da proliferação do mosquito certamente estão relacionados a medidas do governo, mas sobretudo ao comprometimento da população.
A que se deve o recente aumento da população de mosquitos no Rio de Janeiro?
O Aedes aegypti é atraído por altos índices de temperatura e umidade. Por isso, o clima do Rio de Janeiro é, sim, favorável à sua proliferação. Por isso, também, a infestação pelo mosquito é sempre mais intensa no verão. Para evitar esta situação é preciso desenvolver medidas permanentes para o controle do mosquito, durante todo o ano, a partir de ações preventivas que objetivem a eliminação de focos do vetor.


 Genilton Vieira/IOC
 
 O A aegypti é mais facilmente encontrado em áreas urbanizadas e com pouca cobertura vegetal (imagem do filme O mundo Macro e Micro do Mosquito Aedes aegypti - para combatê-lo é preciso conhecê-lo, disponível aqui)

Quais os hábitos de vida do Aedes aegypti?
O Aedes aegypti é um mosquito doméstico, vive dentro ou ao redor de casa ou de outras construções frequentadas por humanos, como estabelecimentos comerciais e escolas, por exemplo. Ou seja, ele está sempre perto do homem e não se aventura às matas por exemplo. Tem hábitos preferencialmente diurnos e alimenta-se de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. Mas, como é oportunista, pode picar à noite, quando uma pessoa se aproxima muito do local onde o mosquito se esconde, como embaixo de móveis.

 Genilton Vieira/IOC
 
 A reprodução do A. aegypti acontece em água limpa e parada, a partir da postura de ovos pela fêmea, que precisa de sangue para fecundar. Na imagem, a metamorfose da pupa em mosquito.
O mosquito teria, recentemente, mudado de comportamento?
Não. O Aedes aegypti não desenvolveu novos hábitos. É um mosquito doméstico, vive dentro de casa e perto do homem. Tem hábitos diurnos e alimenta-se de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. A reprodução acontece em água limpa e parada, a partir da postura de ovos pelas fêmeas. Os ovos são colocados em água limpa e parada e distribuídos por diversos criadouros – estratégia que garante a dispersão da espécie. Se a fêmea estiver infectada pelo vírus da dengue quando realizar a postura de ovos, há a possibilidade de as larvas já nascerem com o vírus – a chamada transmissão vertical.
Como se dá a convivência entre Aedes aegypti e Culex? Há disputa de espaço?
Não há disputa significativa porque os dois mosquitos alimentam-se de sangue e açúcar, disponíveis em abundância no ambiente urbano. Além disso, enquanto o Aedes aegypti é um inseto diurno que se reproduz em água limpa, mosquitos do gênero Culex preferem criadouros com alta concentração de matéria orgânica em decomposição e têm atividade estritamente noturna.


 Genilton Vieira/IOC
 
 Uma fêmea do A. aegypti pode dar origem a 1.500 mosquitos durante sua vida. Os ovos são distribuídos por diversos criadouros, estratégia que garante a dispersão e preservação da espécie. Na imagem, o A. aegypti em fase de pupa.
 E com o Aedes albopictus, que também transmite a dengue?
O Aedes aegypti é o principal vetor da dengue. No entanto, em algumas áreas, sobretudo no sudeste da Ásia, o Aedes albopictus atua como vetor secundário. Acredita-se que esse mosquito tenha sido introduzido no Brasil na década de 1980, mas como a sua infecção natural pelo vírus da dengue ainda não foi comprovada no país, as medidas de controle da doença não têm o Aedes albopictus como foco. Além disso, não há coincidência entre a prevalência de Aedes albopictus e a ocorrência de dengue. Como as duas espécies são encontradas em ambientes urbanos, pode haver competição na fase imatura (larvas e pupas), dependendo da quantidade de água disponível.
Quais os principais criadouros do Aedes aegypti?
Em pesquisas de campo realizadas recentemente, verificamos que os grandes reservatórios, como caixas d’água, galões e tonéis, são os criadouros mais produtivos do Aedes aegypti. Isso não significa que a população possa descuidar da atenção a pequenos reservatórios, como vasos de plantas, que comprovadamente atuam como criadouros. O alerta é para que os cuidados com os reservatórios de maior porte sejam redobrados, pois é neles que o mosquito seguramente encontra condições para se desenvolver de ovo a adulto. Em alguns bairos suburbanos, estes grandes criadouros produzem quase 70% do total de mosquitos adultos, ou seja, que podem nos picar e transmitir o vírus da dengue.
 Gutemberg Brito/IOC
 
 Grandes reservatórios, como caixas d'águas e tonéis, são os criadouros preferidos do mosquito. Pequenos recipientes, porém, como vasos de planta, também exigem cuidado. Acima, imagem de um criadouro com larvas.
Como o mosquito se reproduz?
O acasalamento do Aedes ageypti se dá dentro ou ao redor das habitações, geralmente nos três primeiros dias depois que o mosquito atinge a superfície do criadouro. Embora possa se alimentar com sangue antes da cópula, as fêmeas intensificam a voracidade pela hematofagia após a fecundação, quando precisam ingerir sangue para realizar o desenvolvimento completo dos ovos e maturação dos seus ovários. Normalmente as fêmeas engravidam três dias após a ingestão de sangue, passando então a procurar local para desovar.
A desova acontece em criadouros com água limpa e parada, onde os ovos depositados são aderidos às paredes do recipiente, bem próximo à superfície da água, porém não diretamente sobre o líquido. Uma fêmea pode dar origem a 1.500 mosquitos durante a sua vida. Os ovos são distribuídos por diversos criadouros – estratégia que garante a dispersão e preservação da espécie. Se a fêmea estiver infectada pelo vírus da dengue quando realizar a postura de ovos, há a possibilidade de as larvas já nascerem com o vírus – a chamada transmissão vertical.
Quantas pessoas um mosquito é capaz de infectar?
O vírus pode ser transmitido a quantas pessoas uma fêmea do Aedes aegypti  infectada possa picar.
Por que se só a fêmea pica?
A fêmea precisa de sangue para a produção de ovos. Tanto o macho quanto a fêmea se alimentam de substâncias que contêm açúcar (néctar, seiva, entre outros), mas como o macho não produz ovos, não necessita de sangue.
Quanto tempo um ovo leva para se transformar em um mosquito adulto capaz de infectar o homem?
Este ciclo varia de acordo com condições climáticas, a disponibilidade de alimentos e a quantidade de larvas existentes no mesmo criadouro, uma vez que a competição de larvas por alimento em um mesmo criadouro com pouca água consiste em um obstáculo ao amadurecimento do inseto para a fase adulta. No Rio de Janeiro, esse processo é realizado geralmente em um período de oito a doze dias.
O ovo, que mede aproximadamente 1 mm de comprimento, é depositado pela fêmea do Aedes aegypti nas paredes internas dos criadouros, próximos à superfície da água. O desenvolvimento do embrião é concluído em 48 horas, em condições favoráveis de umidade e temperatura. Do desenvolvimento embrionário à eclosão, os ovos podem resistir a longos períodos de dessecação – até 450 dias em média. Este período varia segundo diversos critérios, como o clima: a resistência é menor em locais mais quentes e secos. A capacidade de resistência dos ovos de Aedes aegypti à dessecação por até 450 dias é um aspecto importante do ciclo de vida do mosquito, que demonstra a necessidade do combate continuado aos criadouros, em todas as estações do ano. Esta resistência permite que os ovos sejam transportados a grandes distâncias, em recipientes secos, tornando-se assim o principal meio de dispersão do inseto – dinâmica conhecida como dispersão passiva.

 Genilton Vieira/IOC
 
 Depositados pelas fêmeas nas paredes internas dos criadouros, próximos à superfície da água, os ovos do A. aegypti podem resistir até 450 dias.
Usar calça comprida e meias pode colaborar para a prevenção à picada do mosquito?
Sim, porque o Aedes aegypti pica as pessoas preferencialmente nas pernas e nos pés. Ele tem rejeição à claridade e é atraído pelo calor, por isso teria preferência por tecidos escuros. No entanto, as picadas também podem ocorrer em outras partes do corpo, mesmo que a pessoa esteja protegida por roupas. O importante é eliminar os criadouros do mosquito, para que ele não circule.
Permitida a reprodução do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz). Para reprodução de imagens, favor encaminhar solicitação através do email jornalismo@ioc.fiocruz.br

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