Sábado, 17 de Fevereiro de 2018 - 08:40
por Julia Lindner, Igor Gadelha e Renan Truffi | Estadão Conteúdo
Foto: Agência Brasil
Após o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) confirmar a
condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliados do
petista no Nordeste ameaçam rever acordos locais com o partido. A
decisão em segunda instância no caso do triplex do Guarujá tende a
tornar o petista inelegível e sua eventual candidatura ao Planalto
dependeria de decisões judiciais. Líderes do MDB já avaliam romper
alianças ou recuar em acertos prévios com o PT caso a sigla tenha outro
candidato a presidente. O Nordeste é o principal reduto eleitoral do
ex-presidente. Em agosto do ano passado, Lula percorreu a região em uma
caravana na qual começou a costurar alianças para as eleições deste ano.
À época, o petista já tinha sido em condenado em primeira instância
pelo juiz Sérgio Moro. Em janeiro, no entanto, o ex-presidente foi
condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de prisão, decisão que
colocou incerteza na sua candidatura. Para evitar uma "debandada", o
ex-presidente procurou caciques para convencê-los a manter acordos com o
PT nos Estados mesmo se ele não puder ser candidato. Isso porque os
aliados de Lula garantem apoio ao petista, mas não ao restante do PT. Um
dos caciques do MDB que Lula já procurou foi o presidente do Senado,
Eunício Oliveira (CE). Eles marcaram um encontro para o início de março.
Candidato à reeleição, o emedebista negocia aliança com o governador do
Ceará, Camilo Santana (PT), que também tentará se reeleger, e já
declarou publicamente que seu candidato à Presidência seria Lula.
Segundo interlocutores, caso o petista não seja o candidato, Eunício
pode migrar para outro palanque presidencial. Lula também tem conversado
frequentemente com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é candidato à
reeleição. O parlamentar alagoano defendeu publicamente o ex-presidente
após o julgamento, mas reiterou a aliados que sua aliança é "pessoal"
com o petista e não se estende a um substituto. Outros partidos também
ameaçam não se aliar ao PT no Nordeste se Lula não for candidato. Na
Bahia, maior colégio eleitoral da região, há um movimento de parte do PP
para desfazer a aliança com o governador petista Rui Costa, que
disputará a reeleição. O objetivo da sigla, que tem o vice-governador,
João Leão, seria aderir à campanha a governador do atual prefeito de
Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto, que é do DEM. O
deputado Afonso Florence (PT-BA) minimiza e diz que mesmo uma eventual
prisão de Lula não alteraria o cenário no Estado. "Acho que até na
hipotética, eu diria improvável, prisão de Lula, ele cresce. No caso da
Bahia, considerando que tem um governo estadual, não vejo nenhum impacto
direto na redução de densidade eleitoral ou redução de apoio a Rui
Costa. O que pode pesar é a pressão dos partidos nacionais, mas acho
improvável", afirmou. Além de Ceará e Bahia, o PT pretende ter candidato
próprio ao governo em pelo menos outros dois Estados do Nordeste: Piauí
e Rio Grande do Norte. No Piauí, o governador Wellington Dias tentará
reeleição. Em Pernambuco, a situação está indefinida. Antes da
condenação, Lula incentivava integrantes do partido a apoiar a
candidatura do senador Armando Monteiro (PTB). Sem o ex-presidente,
Monteiro intensificou negociações com DEM, MDB e PSDB, adversários do PT
no Estado. "Uma candidatura forte que tenha o apoio de Lula tem tudo
para vingar. Se ele não for candidato, naturalmente que, de alguma
forma, isso muda, mas ele continua com uma grande capacidade de
transferência de votos", disse o senador Humberto Costa (PT-PE). Segundo
ele, a decisão do partido será tomada em março e levará em consideração
os quadros local e nacional.
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