Domingo, 31 de Dezembro de 2017 - 11:20
por Julia Affonso, Luiz Vassallo e Ricardo Brandt | Estadão Conteúdo
Foto: Reprodução / Veja
A força-tarefa da Operação Lava Jato pediu ao juiz federal Sérgio
Moro que a Polícia Federal investigue as novas revelações do
empreiteiro Gerson de Melo Almada, ligado à Engevix. A manifestação do
Ministério Público Federal foi protocolada no dia 19 de dezembro. Em
depoimento prestado em julho deste ano, com sigilo levantado em 1º de
dezembro, Almada disse saber de uma suposta conta em Madri, administrada
pelo lobista Milton Pascowitch, abastecida por propinas de contratos da
Petrobras. Os beneficiários da conta seriam o ex-presidente Luiz Inácio
Lula e o ex-ministro José Dirceu. O depoimento do empreiteiro foi
anexado à denúncia do Ministério Público Federal sobre propinas de R$
2,4 milhões das empreiteiras Engevix e UTC para Dirceu (ministro da Casa
Civil do governo Lula). O petista teria recebido os valores durante e
depois do julgamento do mensalão - ação penal em que Dirceu foi
condenado a 7 anos e onze meses. Gerson Almada declarou ter feito
contratos "dissimulados" com o fim de pagar supostas vantagens indevidas
a Dirceu. No mesmo depoimento, Almada confessou que firmou "contratos
dissimulados" com a empresa de comunicação Entrelinhas com o fim de
pagar propinas a Dirceu. O empreiteiro afirmou que "o objeto dos
contratos, anexados aos autos, nunca foi prestado à Engevix e que,
mediante o fornecimento das notas fiscais pela Entrelinhas, a
empreiteira pagou de 2011 a 2012, o valor de R$ 900 mil". Na
manifestação enviada em 19 de dezembro, o Ministério Público Federal
afirmou que as novas declarações de Gerson Almada "não possuem o condão
de desconstruir a narrativa edificada na denúncia". "Ao contrário, em
verdade, no que respeita ao presente feito, as circunstâncias por ele
apresentadas apenas corroboram os fatos narrados na exordial acusatória,
os quais, oportunamente, serão devidamente demonstrados de forma cabal
no decorrer da instrução criminal", anotou a força-tarefa.
"Especificamente quanto aos novos fatos trazidos por Gerson Almada,
requer este órgão ministerial seja o Departamento de Polícia Federal
intimado a fim de que proceda à instauração de inquérito policial para a
sua apuração, instruindo-o, desde logo, com os depoimentos e documentos
trazidos pelo representante da Engevix, assim como pela declaração de
Milton Pascowitch ora encartada aos autos", solicitou a Procuradoria da
República, no Paraná. Quando as informações sobre as novas declarações
de Almada foram publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, no início
de dezembro, os citados se manifestaram desta forma:"Essa é mais uma
peça de ficção que integra o sistema de delações premiadas a 'la carte'
que vem se tornando uma marca da Operação Lava Jato. Para obter
benefícios, réus confessos precisam se referir a pessoas
preestabelecidas pelos integrantes da operação, em especial, o
ex-Presidente Lula. Lula jamais recebeu qualquer valor indevido da
Engevix ou de qualquer outra empresa e empresário. O próprio depoente
reconheceu que não tem qualquer prova contra o ex-Presidente, deixando
evidente que a referência ao seu nome foi artificialmente construída
para que a sua delação fosse aceita é mantida", disse o advogado
Cristiano Zanin Martins, que defende Lula. O advogado Roberto Podval,
que defende José Dirceu, se manifestou da seguinte forma: "Vou ter
acesso ao depoimento ainda, mas, se for verdade, a colaboração de Milton
Pascowitch deve ser revista". "Nenhum sentido. Em seu próprio
depoimento, Almada afirma não ter prova do que diz", disse, por sua vez,
o advogado Théo Dias, defensor de Pascowitch.
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