Especial
VEJA, Abril de 1896
Primeira edição dos Jogos
Olímpicos modernos toma Atenas
de assalto, coroa esforços dos organizadores, exibe extraordinárias
proezas esportivas e renova a auto-estima dos helênicos
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| O renascimento da festa dos esportes: os gregos e seus convidados participam da cerimônia de abertura, no último dia 6 |
Há pouco mais de 15 séculos, no ano de 393, o imperador
bizantino Teodósio I, o Grande, varria do mapa a maior
competição atlética do planeta, os Jogos
Olímpicos. Celebrados desde 776 a.C. às margens
do rio Alfeu e dedicados aos deuses gregos, os Jogos, que congregavam
cidadãos dos diversos estados do mundo helênico,
entraram na temida lista de "cultos pagãos" e
tiveram sua realização sumariamente proibida pelo
soberano cristão. O infausto decreto foi apenas mais uma
das estocadas forasteiras no destino livre da Grécia, berço
da civilização e da cultura ocidental. Assolada
por guerras, desvirtuada por invasores, molestada por celerados,
a nação de Aristóteles, Sócrates e
Platão só se desgarraria do jugo estrangeiro neste
século, quando a Guerra de Independência de 1821
libertou a Grécia do Império Otomano. Com a liberdade,
porém, veio o desafio de recuperar um país quebrado
e desmoralizado pela milenar submissão tarefa hercúlea,
como os gregos vêm dolorosamente percebendo ao longo das
últimas décadas.
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| A emocionante prova dos 100 metros rasos: disputa pacífica entre nações |
Uma luz, contudo, fez-se notar na escuridão dessa caverna
de incertezas neste mês de abril. O fogo que flamejava no
altar de Héstia, na Olímpia da Antiguidade, voltou
a se acender em uma procissão de tochas no centro de Atenas,
celebrando o renascimento dos Jogos Olímpicos, agora internacionais,
realizados entre os dias 6 e 15 (25 de março a 3 de abril,
pelo calendário juliano adotado pelos gregos). O resgate
do evento que reunia a flor da civilização helênica
em seu ápice não poderia ter chegado em melhor hora
para a nação de seus descendentes, ávida por
um renascimento. Agora com as portas abertas para o mundo, a Grécia,
superando as desconfianças e os problemas iniciais, logrou
realizar um evento acolhedor e brilhante, celebrado por atletas
e visitantes, dentro do mais ilibado espírito olímpico.
Com isso, o país ganha não só uma injeção
de auto-estima, como também um voto de credibilidade aos
olhos da comunidade internacional presente aos Jogos.
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| Vikelas, do Comitê: em menos de 2 anos |
Helênicos na bancarrota Curiosamente, partiu de
um estrangeiro, o Barão de Coubertin, a centelha que resultou
na ressurreição dos Jogos. O desejo expressado pelo
francês eleito secretário-geral do recém-fundado
Comitê Olímpico Internacional, no Congresso de Paris,
em 1894 era de que a primeira edição acontecesse
em 1900. Mas o grego Demetrius Vikelas, presidente do comitê,
sugeriu e bancou a realização dos Jogos em 1896 um
prazo, portanto, inferior a dois anos. A idéia foi recebida
de braços abertos pelos helênicos. Havia apenas um
empecilho, mas de proporções monumentais: o governo
da Grécia declarara estado de bancarrota em 1893. Como devedor
de primeira grandeza dos países europeus, não poderia
entregar um dracma sequer para o financiamento do evento, que já
se avizinhava (o dracma, moeda local, vale pouco mais de dez centavos
de dólar americano). Mas o rei Jorge, ciente de que a empreitada
era de importância nacional, organizou, com auxílio
de Vikelas, um comitê provisório para organização
dos Jogos Olímpicos de Atenas. Era o primeiro obstáculo
a ser superado pelos gregos.
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| Jorge, o monarca: 'Vida longa à Grécia!' |
O colegiado era encabeçado pelo príncipe herdeiro
Constantino, tendo como principais auxiliares seus irmãos,
os príncipes Jorge e Nicolas. Usando a influência da
família real e recorrendo ao sentimento de patriotismo helênico,
o comitê lançou mão com sucesso das associações
e dos cidadãos gregos espalhados pelo mundo para conseguir
polpudas doações. Os organizadores também sugeriram
ao governo que emitisse uma série especial de selos e medalhas
comemorativas aos Jogos, com a verba revertida para o evento. Tudo
isso, somado à mais do que generosa ajuda do magnata George
Averoff que representou quase metade do total arrecadado , possibilitou
às autoridades locais a construção da infra-estrutura
para a acomodação das dez modalidades esportivas previstas
no programa dos Jogos Olímpicos: atletismo, ciclismo, esgrima,
ginástica, tiro, natação, tênis, levantamento
de peso e remo (essa última modalidade, entretanto, acabou
não sendo disputada devido ao mau tempo). Além da
reforma total do estádio Panathinaiko, centro pulsante das
competições, foram erguidos o Velódromo de
Neo Phaliro, um estande de tiro em Kallitheia e quadras de tênis,
entre outras instalações.
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| Connoly: o primeiro campeão olímpico |
Espírito olímpico "Vida longa à
nação. Vida longa à Grécia!" O
rei Jorge declarou abertos os Jogos Olímpicos no dia 6 de
abril no calendário juliano, 25 de março, data em
que se comemorava o 75º aniversário da independência
da Grécia , em uma concorrida cerimônia no Panathinaiko.
Diversas filarmônicas marcaram presença, e reuniram-se
para executar o Hino Olímpico, de autoria dos gregos Palamas
e Samaras, que evocava o espírito imortal da Antiguidade.
Bem ensaiado, o público formou um coro de 70.000 vozes, em
um espetáculo tocante. Em seguida, já se iniciaram
as provas de atletismo as três baterias eliminatórias
dos 100 metros, classificatórias para a final do dia seguinte,
constituíram o primeiro programa. Na seqüência,
foi a vez do salto triplo, com dez competidores, em que se coroou
o primeiro campeão olímpico: o americano James Connolly,
com um pulo de nada menos que 2,70 metros. A bandeira dos Estados
Unidos foi colocada no centro da arena pelos homens da Marinha Real
e aplaudida com entusiasmo pelos gregos, em uma generosa demonstração
de reconhecimento e admiração pelo desempenho do vencedor,
cuja rota até Atenas incluiu uma viagem transatlântica
em um navio de carga.
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| A prova de natação, no Mar Mediterrâneo: uma contenda muito equilibrada |
Esse cavalheirismo, aliás, foi uma constante no comportamento
dos anfitriões, em todas as modalidades. Aproximadamente
240 atletas, de 14 diferentes nacionalidades, participaram dos Jogos
Olímpicos. Mas os helênicos, apesar de torcerem apaixonadamente
pelos heróis nacionais, congratulavam a todos como se fossem
patrícios o que despertou até a curiosidade de alguns
competidores estrangeiros. "Eu não teria conseguido
cumprimentar meu oponente se ele tivesse me superado em minha casa,
como fez um atleta grego comigo", declarou um desportista americano.
"Mas foi uma coisa muito bonita de se fazer." Durante
todos os dias do evento, a população de Atenas se
juntou aos estrangeiros nas ruas da cidade em fraternais demonstrações
de integração. Todavia, a maior festa dos oito dias
de disputa aconteceu durante a chegada da maratona, em que milhares
de gregos viveram uma catarse coletiva com a vitória de Spiridon
Louis (
leia
reportagem nesta edição). Houve boas disputas
também no atletismo (dominado pelos desportistas dos Estados
Unidos), na ginástica (modalidade em que os alemães
foram soberanos), na esgrima e na natação, em que
as nações estiveram mais equilibradas.
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| Spiridon na premiação: triunfo helênico |
Fora do programa Toda a premiação dos campeões
ocorreu no último dia dos Jogos Olímpicos, em cerimônia
presidida também pelo rei Jorge, com diversos convidados
internacionais. Cada vencedor recebia, pelo seu feito, uma medalha
de prata, um diploma e uma coroa de ramos de oliveira; ao segundo
lugar era oferecida uma medalha de bronze. Depois da entrega dos
lauréis, o atleta mais festejado do dia, o grego Spiridon Louis,
deixou seu posto para dar uma volta no estádio seguido
nesse desfile improvisado por todos os outros atletas. Passado e
presente voltavam a se unir depois de um hiato de 1.500 anos, enchendo
de orgulho os gregos. O Barão de Coubertin celebrava. "Alcançamos
nestes Jogos uma grande inovação, que foi a cooperação
entre os povos e os esportes. É um enorme passo à
frente, que lança as bases para um novo futuro."
O próximo encontro, de acordo com o plano quadrienal do
Comitê Olímpico Internacional, acontecerá em
Paris, em 1900. Mas o sucesso dos Jogos de Atenas pode trazer uma
pequena dor de cabeça a Coubertin, que assumirá como
presidente do comitê organizador do evento em solo gaulês.
Em seu discurso de encerramento, o rei Jorge, empolgado com o efeito
contagiante do evento sobre o moral da população,
lançou uma frase que certamente não estava no programa
dos homens do Comitê Olímpico. "Que a Grécia
esteja destinada a ser o ponto de encontro pacífico de todas
as nacionalidades, e que Atenas se torne a sede permanente dos Jogos
Olímpicos." A sorte está lançada.

Para o Barão de Coubertin, idealizador da retomada dos
Jogos Olímpicos, o importante não é vencer,
mas simplesmente competir. Os atletas que triunfaram nas competições
de Atenas, contudo, voltaram para casa com algo mais que a satisfação
de conquistar uma vitória: foram presenteados com belíssimas
medalhas. Os primeiros colocados ganharam medalhas de prata.
Os que ficaram em segundo lugar receberam medalhas de bronze.
No quadro ao lado, os países que somaram mais medalhas. |
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País
|
Prata |
Bronze |
|
1 |
Estados Unidos |
11 |
7 |
|
2 |
Grécia |
10 |
17 |
|
3 |
Alemanha |
6 |
5 |
|
4 |
França |
5 |
4 |
|
5 |
Grã-Bretanha
|
2 |
3 |
|
6 |
Hungria |
2 |
1 |
|
7 |
Áustria |
2 |
1 |
|
8 |
Austrália |
2 |
0 |
|
9 |
Dinamarca |
1 |
2 |
|
10 |
Suiça |
1 |
2 |
|
11 |
Países mistos
|
1 |
1 |
|
O
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Candidato à mascote das Olimpíadas, macaco Muriqui está ameaçado de extinção
Primata já está extinto em algumas áreas de Mata Atlântica, como na Bahia e Sergipe
Forte
candidato a mascote nas Olimpíadas de 2016, o simpático macaco muriqui
(em tupi, 'povo manso da floresta' evidenciando a pacificidade e o gosto
desses animais por abraços), está seriamente ameaçado de extinção. O
maior macaco das Américas, exclusivo da biodiversidade brasileira e
presente em grande parte da Mata Atlântica que integra o Rio de Janeiro,
sofre com a caça esportiva e – pasmem – para o consumo humano.
Os muriquis, reduzidos a pouco mais de três mil indivíduos, sobrevivem atualmente em parques estaduais e nacionais
Na
verdade, além da carne do muriqui ser bem apreciada para o consumo no
passado, a redução drástica dos exemplares desse primata aconteceu,
principalmente, pela extração do palmito juçara, que mesmo proibida há
duas décadas ainda é muito comum em grandes áreas de São Paulo e do Rio.
Além
da destruição do habitat, da caça e da introdução de doenças pelo
contato com os caçadores, outro motivo levou a uma das espécies
existentes, o muriqui-do-norte (
Brachyteles hypoxanthus) à
posição de criticamente em perigo, em uma lista elaborada pela União
Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com os 100 animais
mais ameaçados do mundo: a baixa taxa de reprodução.
Com uma gestação de 210 a 255 dias, a fêmea muriqui tem seu primeiro filhote somente depois dos oito anos de vida.
Conservação
Além do muriqui-do-norte, que vive no Rio, Minas Gerais, Espírito Santo e
já está extinto na Bahia e em Sergipe, há o muriqui-do-sul (
Brachyteles arachnoides),
espécie que habita o Paraná, São Paulo e sul do Rio. A única diferença
entre as duas espécies é que o muriqui-do-norte tem o rosto
despigmentado e um polegar pouco útil.
Os muriquis, reduzidos a
pouco mais de três mil indivíduos, sobrevivem atualmente em parques
estaduais e nacionais. Apesar da caça existir até hoje,
há avanços nos esforços de conservação. O Plano de Ação Nacional dos Muriquis, por exemplo, propõe estratégias para proteger a espécie.
Outra
proposta é a criação de um corredor ecológico ligando duas reservas de
proteção da Mata Atlântica em São Paulo, possibilitando que os muriquis
se espalhem por uma área maior. O projeto pretende ainda implantar
trilhas para que turistas e visitantes tenham mais proximidade com os
primatas, ávidos por quem os abrace.
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