Saúde:Vacina contra o tétano vira arma para destruir o câncer
Doses do imunizante aumentam de forma expressiva a eficácia do tratamento contra o mais letal tumor de cérebro. Paciente com prognóstico de três meses de vida está viva há mais de oito anos
Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
Uma
ajuda da vacina contra o tétano – doença grave causada pela bactéria
Clostridium tetani – mostrou-se decisiva para aumentar de maneira
significativa o tempo de vida de pacientes com o tipo mais letal de
câncer cerebral. O imunizante foi adicionado ao tratamento de portadores
de glioblastoma, enfermidade cujo prognóstico é geralmente muito ruim. A
sobrevida após o diagnóstico é de pouco mais de um ano. A associação da
vacina antitétano ao tratamento permitiu, no entanto, que um dos
pacientes vivesse quase seis anos mais. Outro, a americana Sandra
Hillburn, 68 anos, permanece viva mais de oito anos depois de saber que
estava doente.
SUCESSO
Kristen e Sampson conduziram a experiência. A recuperação
de Sandra (acima) é a que mais chama a atenção
A experiência foi feita por médicos da
Universidade de Duke (EUA) e relatada na última edição da revista
científica Nature. Os cientistas tiveram a ideia de usar o imunizante
contra o tétano porque queriam dar mais eficácia à imunoterapia –
estratégia cada vez usada contra vários tipos de tumores e que tem como
objetivo ativar o sistema de defesa do paciente para atacar as células
doentes. Eles prepararam uma vacina a partir de células do sistema
imunológico extraídas do doente e transformadas de forma a ajudar as
outras células do exército de defesa a destruir o glioblastoma.
Estas células foram reinjetadas nos doze
participantes do experimento. Antes, porém, parte dos voluntários
recebeu duas doses da vacina contra o tétano. O restante teve uma dose
administrada. Elas foram ministradas um dia antes da aplicação das
injeções da imunoterapia (leia mais no quadro).
A diferença no tempo de sobrevida entre os
que foram medicados com as duas doses da antitetânica e os que receberam
o imunizante uma vez foi expressiva. Entre este último grupo, 50% teve
sobrevida de 18,5 meses. Os números entre os imunizados duas vezes são
bem diferentes. “Metade viveu entre 4,2 anos e 8,4 anos”, disse John
Sampson, líder da pesquisa, que teve a participação de Kristen Batich. O
caso de Sandra Hillburn foi o que mais chamou a atenção. Quando recebeu
o diagnóstico, em 2006, foi informada de que teria três meses de vida.
Hoje, vive cercada pelos cinco netos em New Jersey.
Acredita-se que a antitetânica tenha
servido como um alarme para deixar o sistema de defesa mais alerta,
aumentando a eficiência da imunoterapia. No Brasil, o oncologista
Fernando Maluf, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do Hospital
São José-Beneficência Portuguesa, em São Paulo, acha que o experimento
reforça a importância do método. “Suas conclusões fortalecem a
estratégia da imunoterapia. Ela será o futuro do tratamento”, afirma.
Os médicos planejam expandir o experimento
para mais pacientes. “Estamos otimistas quanto à futura aplicação do
tratamento”, disse Duane Mitchell, co-autor do artigo sobre a
experiência.
Fotos: Seth Wenig/AP Photo; Shawn Rocco/Duke Medicine
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